Hortas e jardins dos franceses não podem mais ter agrotóxicos
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Os jardineiros de fim de semana da França agora têm de encontrar outras soluções para dar vigor às plantas e evitar fungos ou ervas daninhas: desde o dia 1º de janeiro, estão proibidos a compra, o uso e o estoque de produtos químicos nos jardins e hortas particulares. A medida é mais um passo no caminho para diminuir “drasticamente” a utilização de agrotóxicos no país, conforme um relatório parlamentar que sugeriu a mudança. Os senadores afirmam que os amadores “raramente” têm informações suficientes para utilizá-los de maneira adequada. O glifosato, o agrotóxico mais utilizado no mundo tanto na agricultura quanto pelos particulares, já estava proibido nos parques e espaços públicos franceses há dois anos, e agora também vai desaparecer das casas.   O diretor da organização Générations Futures, François Veillerette, comemorou mais este avanço para livrar a população dos produtos químicos. Ele observa que uso nos jardins corresponde a 5% das vendas de agrotóxicos, que possuem moléculas nocivas ao cérebro e desreguladores hormonais. Despreparo Segundo Veillerette, a proporção de produto por metro quadrado é mais elevada nas casas e apartamentos, em relação às plantações em grande escala. “Os jardineiros amadores não são formados para usar os produtos. Eles não se protegem, não utilizam uma máscara, um macacão, botas e óculos de proteção – pelo contrário, em geral vestem apenas um short e uma camiseta. Ou seja, eles estão ainda mais expostos aos produtos do que os profissionais”, alerta. “Com frequência, eles sequer sabem qual é a dose correta de produto que deve ser aplicada. Diante desses riscos, a proibição dos produtos sintéticos é uma ótima medida.” O ambientalista ressalta que, em geral, a dose usada pelos amadores é até 20% superior à medida recomendada pelo fabricante. Com a ventilação, as moléculas se difundem no ar e vão parar nos pulmões dos moradores e animais domésticos. “As soluções ecológicas são eficientes, embora sejam menos violentas do que as químicas. Por isso, tem-se a impressão de que são menos eficazes. Mas as pesquisas estão avançando e os fabricantes entenderam a importância de oferecer produtos mais naturais”, nota Veillerette. “Temos os que reforçam as defesas das plantas, com extratos de plantas. Temos equipamentos que ajudam muito a retirar as ervas daninhas, em vez de matá-las com produtos químicos – e esse exercício ainda faz bem para a forma física do jardineiro”, brinca. Permacultura, o jardim mais natural Fã de mexer na terra nos dias de folga, o técnico de som francês Alain Bleu até tentou alguns produtos vegetais para embelezar a horta e o pomar, mas achou que os resultados não valiam o esforço. Ele então abandonou tudo e passou a se inspirar na permacultura, método de jardinagem baseado no ecossistema natural. O segredo, diz, é preparar bem a terra. “Colocamos folhas sobre a terra e ela fica repousando durante o inverno todo até formar o húmus, como na floresta. A terra é nutrida apenas desta maneira. Os animais da terra decompõem as folhas e esse é o único tratamento que ela precisa. Na primavera, ela está pronta para ser trabalhada e você planta”, explica. Morador dos arredores de Paris, Alain alterna as culturas e prefere uma certa desordem na sua horta – avalia que, desta forma, as plantas se protegem umas às outras. Quanto mais espécies semelhantes estiverem juntas num mesmo local, mais chances haverá de surgirem pragas. No verão, o francês colhe frutas e legumes para a família e ainda distribui para os vizinhos, que compartilham a paixão pela jardinagem amadora. “As gerações antigas gostavam muito de usar produtos, mas até eles estão aprendendo a agroecologia. Tenho vizinhos que estão aprendendo, afinal todo mundo só fala disso”, a
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