Por trás do glamour dos cosméticos, poluição do corpo e do ambiente
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O shampoo que deixa o cabelo sedoso e brilhante ou o sabonete com toque aveludado escondem um lado nada glamouroso: para conseguir esse efeito, a maioria dos produtos possuem derivados de petróleo, que nada mais são do que plástico em forma líquida. Outras marcas se orgulham de só ter ingredientes naturais na fórmula – mas os componentes são obtidos com métodos duvidosos de produção, em países distantes nos quais as regras ambientais são inexistentes. Para combater as práticas nada ecológicas de ao menos 80% da indústria cosmética mundial, o movimento Slow Cosmetique, da França, propõe um selo de qualidade para destacar as marcas que respeitam o corpo e o meio ambiente. A coordenadora da associação, Constance Sycinski, explica o quanto um simples banho pode ser nocivo, dependendo da escolha do sabonete líquido ou do shampoo. “O efeito macio e sedoso é garantido, mas na verdade estamos envolvendo os cabelos de plástico e, quando enxaguamos a cabeça, ainda levamos esse plástico para os esgotos. É muito grave porque além de poluirmos mais o planeta a cada banho, ainda colocamos poluentes no nosso próprio corpo”, afirma. Constance chama a atenção para o consumismo exagerado que permeia a indústria cosmética: existe um produto diferente para cada parte do corpo, num estímulo permanente a comprar cada vez mais. “Não precisamos de tudo isso! O Slow Cosmetique convida as pessoas a consumir menos e melhor. Produtos simples e de multiuso, como os óleos vegetais, que têm ingredientes naturais e são ótimos para a pele como um todo, porque contêm ácidos graxos que a nutrem profundamente, sem poluir”, observa. Produtos para bebê Esse retorno à simplicidade foi o que motivou a gestora educacional Deborah Feyte a se interessar pelo movimento, no sudoeste da França. Ela começou com receitas caseiras, como trocar o demaquilante por um simples azeite de oliva. O nascimento das filhas a fez questionar ainda mais a necessidade de ter tantos cosméticos no banheiro.  “Minha filha mais velha tinha muita irritação na pele quando era bebê. Foi quando decidi introduzir uma mudança radical: fim de produtos industrializados no banho e passei comprar só produtos naturais, com o selo Slow Cosmetique. Vi a diferença em poucos dias”, atesta a francesa. “As irritações simplesmente acabaram. Ela não tem mais nenhum problema de pele.” Outro problema é a geração de lixo. Constance Sycinski destaca que não basta as marcas oferecerem embalagens recicláveis, se elas continuam a conter plástico. Para ser sustentável, é preciso romper com a dependência dos materiais sintéticos e privilegiar embalagens minimalistas, de papel ou tecido. Grandes marcas de fora A Slow Cosmetique se preocupa com toda a cadeia de produção, em circuito curto, artesanal, local e atento a princípios éticos, como o bem-estar animal. É por isso que, na lista de marcas agraciadas com o selo, jamais haverá espaço para gigantes como L’Oréal ou L’Occitane – por mais que elas se esforcem para passar uma imagem ecológica.   A diretora da associação destaca que, por pressão do mercado consumidor, cada vez mais atento aos rótulos dos produtos e atento à presença de desreguladores endócrinos, as grandes marcas se obrigam a oferecer pelo menos uma gama de orgânicos. Mas atenção: orgânico não é sinônimo de sustentável. “A fórmula será boa, não-poluente, mas terá ingredientes do mundo inteiro, produzidos num ritmo alucinante, às vezes prejudicando as populações locais. Tudo isso porque o Ocidente está exigindo cosméticos orgânicos, então vão passar a produzir orgânicos desenfreadamente”, prevê. Por conta do modo de produção diferenciado, os cosméticos sustentáveis nunca estarão entre os mais baratos do supermercado. Eles custam em média o dobro de um produto c
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