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And here is the monologue for your benefit.
Ah, a poesia, o romance e o amor são coisas boas, não são? Para mim, sim, são, e mesmo com os contratempos e os percalços de que vou falar, ainda sou um amante perdidamente apaixonado e sempre vou ser.
No mês passado, vi que contrataram uma nova menina para o departamento de vendas. Seu nome? Era um nome angelical: ela se chamava Muriel – adorava o efeito avassalador daquele nomezinho diminuto na minha cabeça, o suave redondo dos lábios abrindo-se para dar vez a um toque nos dentes com a ponta da língua, indo findar-se num biquinho mais lindo com o “éu”. Mu-ri-el.
Ai, ai, estou pronto para fazer juras de amor por aquela musa que me deixou caidinho por ela. Vê-la passar de manhã com seu rostinho inchado de sono para o departamento de vendas, apanhar o telefone com um desgosto incomensurável, falar com aquela voz anasalada que amolaria mesmo a mais paciente das fonoaudiólogas... tudo é tão bonitinho que meu coração mole não aguenta vê-la sofrer nesta empresa.
Mas o que posso fazer? Já não é mais de bom tom fazer uma serenata diante da janela, e abrir meu coração para ela nesta empresa, neste ambiente? Não assim, na cara dura. Iam dizer que eu estava botando as garrinhas de fora, e a última coisa que quero agora é chamar atenção para mim – preciso desse emprego.
Então, qual seria a solução?
Ora, eu tenho alguns poemas inacabados que poderia aproveitar. E foi exatamente isso que fiz.
Não eram poemas do tipo “batatinha quando nasce” nem “ó, meu amor”. Eram menos chinfrins que isso. Ouso dizer que eram até bons – não no nível de um Vinícius de Moraes, mas quase. Os meus não são tão açucarados quanto os dele, apesar de serem meigos... meigos como a Muriel.
Bom, mesmo todo poeta que anda nas nuvens tem que colocar os pés no chão de vez em quando. Fiz isso. Como sabia que ela se chamava Muriel e era do departamento de vendas, sabia que ela tinha um e-mail. Fui caçar no diretório da empresa e não deu outra: achei o que queria. Enviei um e-mail para ela com meu poema. Meu poema não dizia nesses termos ignóbeis, mas caso ela estivesse disposta a travar uma amizade colorida comigo, eu estaria dentro. Prepararia nosso ninho de amor e a chamaria de “amoreco” pelo resto da vida.
Como era tímida, a minha querida Muriel! Ficou uma semana sem responder. E pensei: nossa, que tímida. Acho que é hora de uma abordagem mais direta.
E quando cheguei nela e lhe perguntei do e-mail que lhe tinha enviado, ela me olhou confusa: que e-mail? E eu desembuchei tudo. Ela começou a rir e gritou: “ô, Muriel, aqui está o seu admirador.” Um rapaz se levantou e disse: “Oi, tudo bem? Eu sou o Muriel do faturamento. Seus poemas até são bonitinhos, mas já sou comprometido. Fica para uma outra, tá?”
Desde então, continuo um verdadeiro apaixonado, mas fico sempre na minha.
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Published 11/11/24
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Published 10/24/24