#230 - Literatura profética?: uma conversa sobre livros que antecipam e pensam o futuro
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No começo de fevereiro deste ano, um trem com produtos químicos tóxicos descarrilou em Ohio, nos Estados Unidos. O acidente provocou um incêndio, e o incêndio gerou uma fumaça tóxica. Duas mil pessoas tiveram que ser evacuadas da pequena cidade de East Palestine. Seria só mais um desastre entre tantos que assolam o noticiário, não fosse por uma coincidência: um acidente de trem envolvendo a fumaça de produtos tóxicos é exatamente o mote do livro “Ruído branco”, de Don DeLillo.
Esse é apenas um dos exemplos dessa literatura "profética" muito presente no cânone literário ocidental. "Complô contra a América", de Philip Roth, foi lançado em 2004 e mostra como a eleição de um outsider da política pode causar estragos ao país. Mais de dez anos depois, em meio à eleição de Donald Trump, foi apontado como uma espécie de prenúncio da ascensão da extrema-direita no mundo. Michel Houellebecq também viu suas obras anteciparem tragédias coletivas: lançou "Plataforma" na mesma semana dos atentados em Bali e "Submissão" no mesmo período do ataque ao jornal Charlie Hebdo. Thomas Pynchon e Cormac McCarthy são autores que pensam a sociedade estadunidense pelos filtros respectivamente da paranoia e da violência. E Emmanuel Carrère faz uma fascinante mescla de vida real e literatura em suas obras.
Neste episódio, a Rádio Companhia recebe os críticos literários e ensaístas Camila Von Holdefer e Felipe Charbel para conversar sobre essa literatura que antecipa e pensa o futuro, além de debater alguns possíveis rumos da ficção contemporânea.