Experiências traumáticas em hospitais levam francesas a optar pelo parto humanizado em casa
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Cerca de 1% dos partos sem complicações acontece a domicílio na França. Esse número não é maior porque a legislação exige a presença de uma enfermeira especializada no momento do nascimento, explica a assistente de parto e presidente da associação Doulas de France, Pascale Gendreau.
Em 2011, a dona de casa Gabryela Autret-Cioubanu, 41 anos, que vive perto de Bordeaux, no sul da França, teve seu primeiro filho. Na época, ela morava em Brest, na Bretanha, e o parto aconteceu no hospital universitário da cidade. Gabryela não imaginava o que a esperava, apesar de sua gravidez não ter nenhuma complicação.
“Foi uma má escolha. Aplicaram uma anestesia que eu não queria, uma episiotomia (corte no períneo) que eu recusei, mas me fizeram do mesmo jeito, e meu filho nasceu com a ajuda de uma espátula. Nunca me deram uma explicação”, diz Gabriela. “Foi um choque”, diz. Quatro anos depois, ela consultou um psicólogo e descobriu, com surpresa, que tinha um stress pós-traumático provocado pelo parto.
Sete anos se passaram e Gabryela engravidou novamente. Para ela, ter o bebê em um hospital estava fora de cogitação – só se fosse “absolutamente necessário”, diz. Além disso, explica, o nascimento de seu primeiro filho também foi uma experiência difícil para seu marido, que passou mal na sala de parto.
“Para ele, depois disso, ver sua mulher sofrer novamente em um hospital não era possível”, diz. No início da gravidez, Gabryela fez o acompanhamento com seu clínico-geral. “Eu me recusava a consultar um ginecologista ou até mesmo uma sage-femme (enfermeira especializada em partos) ”, declara.
Violências ginecologicas
Um relatório divulgado em junho pelo Alto Conselho para a Igualdade entre Homens e Mulheres, órgão ligado ao governo francês, mostrou que, em muitos hospitais públicos, as parturientes são vítimas de agressões verbais, intervenções médicas sem consentimento (caso da episiotomia), e ignoradas quando sentem dor, por exemplo. O documento, que caiu como uma bomba nas maternidades francesas, levou à publicação de 26 recomendações, entre elas a realização de uma investigação de saúde pública sobre a questão.
A solução para a dona de casa francesa foi buscar ajuda especializada. Foi assim que, no início deste ano, Gabryela obteve o contato de Pascale Gendreau, presidente da Associação Doulas de France. Ela a acompanhou durante a gravidez, deu apoio psicológico e físico, além de dicas de amamentação. O parto, normal, foi realizado por uma enfermeira, já que na França as doulas não têm essa permissão. Decidida a ter seu bebê sem anestesia e na posição que julgasse mais confortável, ela e o marido acabaram optando pelo parto em casa.
Justine, sua filha, nasceu no dia 19 de julho. A presença de Pascale, diz, foi indispensável. “O parto foi como eu tinha imaginado e ainda bem que Pascale estava lá. Foi um verdadeiro apoio para mim e meu marido”.
Na França, logo depois do nascimento, o bebê deve ser examinado por um pediatra em até oito dias depois do parto. Foi o caso da pequena Justine, com quem Gabryela admite ter uma relação “mais próxima” por conta do parto humanizado.
Apoio às gestantes
Na França, as doulas são assistentes de parto. Não há uma estatística precisa sobre o número de mulheres que atuam na área. Na realidade, explica Pascale Gendreau, a profissão não é oficial e, ao longo do tempo, coube às associações a criação de uma regulamentação, que se inspira do código penal e de saúde pública. Como não há necessidade de uma formação médica, quem exerce a atividade não pode praticar gestos no corpo da paciente – como cortar cordão umbilical ou ajudar a mãe a “expulsar” o bebê, por exemplo.
“Nós fazemos o acompanhamento físico e emocional durante a gravidez, o parto e