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A especialista em marketing digital francesa Caroline Faillet, autora do livro “Décoder l’info – Comment Décrypter les fake news?” (“Decodificando as informações, como destrinchar as fake news?”, em tradução livre), explica como artigos científicos pouco embasados e algumas vezes publicados em sites renomados, podem representar um risco para a saúde dos pacientes.
A situação é comum: o médico anuncia o diagnóstico, que pode ser mais ou menos grave, e o paciente corre para o computador buscar informações sobre sua doença. A novidade é que agora, com a dificuldade cada vez maior de capturar a atenção do internauta e atrair publicidade, sites especializados no tema e até mesmo revistas científicas publicam estudos sem a devida verificação, incompletos ou até mesmo incorretos. Essas pesquisas podem ser financiadas por grupos industriais, associações ou pesquisadores que buscam corroborar suas próprias teses, explicou Caroline Faillet em entrevista à RFI.
“Há verdadeiros cientistas que publicam aquilo que chamamos de “fake science” (ou ciência falsa). Esses estudos são um pouco enganadores porque utilizam uma metodologia contestável do ponto de vista científico: aplicam um grande número de dados a poucas pessoas, estabelecem correlações e tiram conclusões que são cientificamente contestáveis”, diz. Jornalistas e público, lembra Caroline, não são estão preparados para decifrar essa metodologia e impedir a propagação desses falsos estudos.
Por que esses cientistas se arriscam tanto? As motivações são variadas. O interesse pode ser ideológico, industrial, quando o estudo beneficia um laboratório, por exemplo, ou simplesmente ligado à carreira. “Hoje os pesquisadores têm necessidade de publicar seus artigos, senão a carreira deles não avança. Essa corrida pela publicação no mundo científico é problemática e se transformou em uma armadilha para os pesquisadores”, salienta Caroline.
O objetivo é “enganar” a opinião pública, incluindo jornalistas, e dificultar a análise de comitês científicos. Existem cerca de 8 mil revistas de fake news científicas espalhadas pela web, cita a autora francesa em seu livro, que são pagas para divulgar alguns desses estudos. Um fenômeno, explica a especialista, que dificulta o trabalho da imprensa, mesmo especializada. “Para os jornalistas, é muito difícil não cair na armadilha, e fazer a diferença entre uma revista científica de verdade e outra cujo objetivo é apenas ganhar um pouco de dinheiro”, diz.
Regime do chocolate
Recentemente, o Inra (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica) divulgou uma pesquisa (verdadeira) mostrando que cerca de 40% dos artigos publicados sobre os OGM (Organismos Geneticamente Modificados) são influenciados pela indústria da biotecnologia e empresas como a Monsanto, por exemplo. O estudo concluiu que os autores eram funcionários das empresas ou haviam sido pagos por elas. Foram analisados 672 artigos, publicados entre 1991 e 2015. Todos avaliavam a eficácia e a durabilidade de plantas geneticamente modificadas utilizadas em plantações de milho, algodão e soja.
Caroline Faillet cita outro estudo fake famoso, de 2015, que propunha um regime a base de chocolate. “Do ponto de vista metodológico, essa pesquisa era uma aberração. Mas, apesar disso, virou capa da “Bild”, o jornal mais popular da Alemanha. A "pesquisa" na verdade foi a experiência de um jornalista americano, John Bohannon para um documentario, e virou case nas escolas de jornalismo. Ele criou um site, chamado Instituto da Saude e da Dieta, e conseguiu emplacar sua tese.
A "dieta" foi testada em 15 pessoas, durante 21 dias, para enganar mais facilmente seus colegas de profissão e chegou a constar no International Archives of Medecine, um indexador de artigos de artigos cientificos, que pub
Um estudo realizado por uma equipe da Sorbonne e do departamento de neurologia do hospital Pitié Salpetrière identificou uma região do chamado córtex visual, usado do reconhecimento dos grafemas: letras e grupos de letras associadas a seus sons elementares. A pesquisa foi publicada em outubro, na...
Published 11/12/19
A hematologista franco-italiana Marina Cavazzana, pesquisadora premiada e pioneira da técnica, espera conseguir eliminar o vírus HIV modificando geneticamente as células-tronco de pacientes soropositivos. Os testes clínicos serão realizados no hospital público Saint-Louis, no 10° distrito de Paris.
Published 10/22/19