Campanha eleitoral gerou novos casos e recaídas de depressão, diz psiquiatra
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Discursos violentos nas redes sociais e rupturas familiares levaram a recaídas e agravamento dos sintomas de muitos brasileiros que sofrem com a doença Amizades desfeitas, brigas de família e contatos apagados nas redes sociais. Muito além das questões políticas e ideológicas que envolveram a campanha eleitoral no Brasil, a disputa pela presidência deixou marcas emocionais. As manifestações de violência que antecederam e precederam a eleição de Bolsonaro tiveram um efeito devastador na saúde mental de alguns brasileiros, que desenvolveram depressão clinica. Outros tiveram recaída da doença. Foi o que constatou o psiquiatra Marcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clinicas, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Segundo ele, o fenômeno foi percetível principalmente depois das festas de fim de ano, que já é um momento propício ao stress causado pelas reuniões familiares. Neste ano, a tensão do período somou-se à posse do novo presidente e às desavenças familiares que surgiram durante a campanha. O psiquiatra ilustra a situação com o caso de um paciente que trabalha no mercado financeiro e expulsou a mãe socióloga de casa durante o almoço de Natal. “Houve muita recrudescência, ou agravamento dos sintomas, além de recaídas. Quem estava bem ficou mal por causa dessa divisão política”, observa o psiquiatra. Segundo ele, outros fatores contribuíram para a onda depressiva. “Foi um ano em que a questão politica não foi o único estressor. Os jovens recém-formados, uma população com muita predisposição para o transtorno de ansiedade, tiveram muita dificuldade para conseguir emprego. Também houve muita dificuldade financeira para as famílias ou para pequenos empresários”, observa. Ele ressalta que a fratura social no Brasil não é recente, e que o pais foi apenas um novo exemplo das mudanças globais orientadas para os extremos – caso da eleição do presidente americano Donald Trump. “Muitos achavam que o Brasil estava imune a essa tendência, mas não”, diz. Independentemente da mudança de governo ter abalado muitos brasileiros, o especialista lembra que existe uma vulnerabilidade que é variável. Fontes de stress levam aos sintomas físicos da depressão se existe uma predisposição. “Isso é importante: têm pessoas que, independentemente do grau de stress que elas sofrem, não têm sintomas”, explica o psiquiatra. A depressão é uma doença potencialmente grave, que acarreta uma queda na produção dos chamados neurotransmissores, como a serotonina ou a noradrenalina. Essas substâncias modulam a dor e exercem outras funções no organismo. Quem tem depressão de verdade pode ter problemas digestivos, de sono, dores de cabeça, falta de apetite e outros problemas. Em casos mais sérios, os pacientes devem ser monitorados para não cometer suicídio. Os antidepressivos modernos equilibram esses neurotransmissores e ajudam os pacientes a conviverem com o mal. Mesária tenta suicídio depois do 2° turno A campanha no Brasil foi considerada como um fator de stress para muitos dos pacientes que tiveram depressão, estavam curadas, e sofreram recaídas. Alguns casos são graves, como o de Patricia*, que mora em Belém, no Pará. Ela já sofria de depressão, mas a doença estava sob controle. Durante a campanha, os sintomas se agravaram. Ela conta ter perdido amigos, inclusive de infância, por conta de divergências politicas. Nas eleições, foi convocada para trabalhar como mesária no primeiro e segundo turno. “Quando voltei do trabalho no 2° turno, entrei no meu quarto e sai três dias depois dentro de uma ambulância para a emergência psiquiátrica, depois de uma tentativa de suicídio”, descreve. “O que me causou esse sofrimento intenso foi a falta de perspectiva, foi pensar no futuro do pais. Aquel
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