“Vale tudo” virtual cria monstros e torna países ingovernáveis
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Um terrorista australiano de extrema-direita assassina 50 muçulmanos numa mesquita na Nova Zelândia. Massacre de adolescentes num colégio tornaram-se corriqueiros no mundo inteiro. No último sábado, Paris viveu cenas de guerrilha urbana: centenas de black blocs, extremistas de esquerda e de direita, depredando, roubando e queimando os comércios do Champs Elysées. Todos esses acontecimentos têm um denominador comum: as redes sociais. “Todo mundo terá direito a 15 minutos de fama mundial”, previa o mestre do pop art, Andy Warhol. Com Facebook, Twiter ou Instagram, qualquer um pode virar uma celebridade planetária. Qualquer ideia, qualquer ideologia por mais maluca que seja, qualquer comportamento – se possível os mais inaceitáveis e vergonhosos – ou qualquer mentira e fake news, podem impactar centenas de milhares de pessoas como um vírus planetário. Influenciando massas de pessoas que usam as redes para se organizar, espalhar raivas e demandas, e atacar os que pensam diferente. Pela primeira vez na história, a circulação da informação é imediata e ubíqua. Isso trás grandes vantagens, mas faz uma vítima de peso: qualquer tipo de autoridade. Cada ideia, cada informação dada pela mídia, pelos professores, pelos políticos, pelos filósofos, pelos cientistas, é imediatamente contestada e atacada por milhares de internautas. O próprio conceito de “verdade” desaparece. Sobram só “opiniões”. E cada um está convencido que só a dele tem valor. Doa a quem doer. E para tentar impô-la e ganhar seus minutos de celebridade global, quanto mais violento e fora dos eixos melhor. Nesse novo mundo do vale-tudo virtual está minguando o espaço das instituições ou autoridades de referência. Os partidos políticos, os governos, os sindicatos, as pesquisas científicas, as escolas, e até o estado de direito e a própria Lei estão perdendo a sua função de orientação. O poder das redes é tanto que até os dirigentes políticos e empresariais atropelam os corpos e instituições intermediárias e querem impor suas agendas com mensagens-relâmpago pelo Twiter. Desafio para democracia representativa Nessa nova era, os países estão se tornando ingovernáveis. Perdeu-se o respeito pela democracia representativa. Como não há mais consenso sobre os objetivos da vida em comum, ninguém mais tem a paciência de esperar pelos resultados concretos dos programas de governo. Eleger representantes políticos por um período de alguns anos e dar tempo para que tentem dar satisfação parece uma aberração. A reivindicação na moda hoje, é a chamada democracia “participativa” considerada como uma participação direta e permanente de todos os cidadãos a todas as decisões. Acompanhada de referendos revocatórios que permitam destituir um eleito pelo sufrágio universal a qualquer momento. Claro, se toda autoridade política ou judiciária é constantemente ameaçada por movimentos de opinião e pelo ativismo – violento ou não – de grupelhos de descontentes veiculando crenças e ideologias esdrúxulas, os governos perdem qualquer forma de continuidade. Tornam-se cata-ventos girando ao Deus dará conforme os humores das redes sociais. Futuro de governos e valores Quanto aos regimes autoritários, eles podem se manter por mais tempo graças à repressão e ao controle generalizado permitido pelas novas tecnologias. Mas o que o mundo digital faz, ele também desfaz. Basta olhar para o que está acontecendo na Argélia ou na Venezuela. Governos ditatoriais passam a vida dançando em cima de um vulcão social cada vez mais fora de controle. Mas não adianta chorar o leite derramado. A era da informática e dos algoritmos não vai ser “desinventada”. A verdade é que estamos mudando de época e de valores. Os velhos modelos de produzir, consumir e se comunicar estão parindo um novo mund
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