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De acordo com o dicionário, metamorfose significa mudança: é a transformação de um ser em outro, ou de uma forma em outra.
Na maioria das manhãs, sou despertada do sono pela famosa dor neuropática.
Logo que consigo ficar sentada na cama, procuro imediatamente tomar o meu espinafre do Popeye - como chamo carinhosamente a mistura de remédios que me ajuda todos os dias.
Procurando uma posição para aguardar o processo de metamorfose acontecer, pego o meu celular para ver minhas mensagens, na ilusão de que algum amigo pergunte se ainda estou viva, se eu preciso de colo pra chorar as pitangas.
Nunca tive a pretensão de me fazer vítima, de coitadinha. Só aperto nessa mesma tecla baseado no pensamento do Padre Fabio de Melo “quem vai ficar do nosso lado diante da nossa inutilidade?”
Quando o espinafre (medicação) faz efeito, o processo de transformação é concluído. Pronto, agora posso levantar e começar mais um dia de vários períodos de metamorfoses.
Alguns sintomas motores da doença de Parkinson são rigidez muscular, lentidão, movimentos involuntários e tremores. Existe uma nomenclatura que caracteriza o momento que estamos sob o efeito da medicação (ON) e o momento em que passa o efeito (OFF).
Associei ao processo de metamorfose porque é como se duas pessoas vivessem no meu corpo.
Quando estou no momento ON, consigo ser uma pessoa normal, como se não tivesse a doença. Sinto-me livre. É como andar de bicicleta no calçadão, apreciando a praia, o céu e as árvores. A vida fica cheia de cores com muitas tonalidades. Atualmente, o período ON é de aproximadamente duas horas, então posso sair por esse período e consigo disfarçar, mas se torna uma maratona que tenho que concluir nesse espaço de tempo.
Quando a medicação vai perdendo seu efeito, iniciam-se os movimentos involuntários, e essa transição dura em média 30 minutos. Essa fase causa muito constrangimento quando estou em público, pois não consigo controlar os braços e pernas.
Em seguida, vem a transformação do ON para o OFF, na qual me transformo em um robô idoso, enferrujado e triste. Os movimentos ficam lentos, começam as dores na coluna.
É durante essa fase que me sinto caindo num buraco fundo, no qual a vida se torna vazia , sem cor e sem sentido. Então repito a medicação, que em 30 a 60 minutos faz efeito e me dá um novo respiro, retomando o ciclo de metamorfose.
O Parkinson entrou na minha vida há cerca de 14 anos, desde que recebemos o diagnóstico da minha irmã, que na época tinha 36 anos de idade. O meu diagnóstico foi aos 42 anos, e desde então todo dia sofro.
Acredito que nessa fase dos quarenta, a mulher está num momento de plenitude, pois já está com a vida encaminhada: constituiu ou não família, a sua profissão já está consolidada, e normalmente já tem uma razoável condição financeira.
E eu me sentia assim, plena. Mas a vida me deu uma rasteira tão grande, que fiquei zonza. Fui, porém, fui obrigada a me levantar do tombo.
Não sou uma guerreira, é que a vida me obriga a ser forte. Hoje, não tenho medo de tempestade, mas quando o inverno chega fico apreensiva. Ainda bem que aqui no nordeste não esfria tanto.
Conviver com a doença não é fácil, mas é possível, apesar das limitações e constrangimentos, ainda consigo viver a experiência de contemplar um por do sol, valorizar um passo, um movimento voluntário, uma boa leitura e me tornar grata por tudo.
Sim, por tudo, porque tenho uma certeza nessa vida: tudo é efêmero e não viemos aqui para passar férias. É necessário passar pela prova, mesmo sem saber do conteúdo a ser estudado.
A vida é incrível, talvez pelo simples fato de que não sabemos o que irá acontecer daqui a um minuto: repentinamente a nossa vida pode sofrer uma transformação drástica, ou surpreendentemente maravilhosa. Assim é a nossa existência humana.
Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhim
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