A história começa em 1989, quando conheci o meu ex-marido.
Éramos muito jovens e foi amor à primeira vista. Namoramos por 2 anos e decidimos nos casar, com tudo o que tínhamos direito: igreja, festa e lua de mel.
Achei que seria para sempre, sabe aquele "até que a morte nos separe”?
Logo nos primeiros meses ele já mostrava traços de abusador: tinha muito ciúmes e controlava demais a minha vida. Deixei de ver os meus amigos e a minha vida passou a ser só dele.
Tivemos nosso primeiro filho com 2 anos de casados, ele me fez largar o meu emprego e a nossa relação só piorou.
Sempre acontecia um empurrão, ou um tapa, mas a primeira agressão física mais forte dele aconteceu no ano em que meu filho nasceu.
A gente comprava galão de água e na minha casa não tinha campainha. O rapaz que foi entregar a água em casa gritou o meu nome no portão e isso bastou para o meu marido fazer um escândalo. Ele abriu a janela, gritou com o moço e mandou ele embora.
Quem você acha que é para gritar o nome da minha esposa no meio da rua?
Na sequência ele puxou os meus cabelos a ponto de arrancar. Lembro de ficar pegando no chão os chumaços de cabelo que ele tinha arrancado de mim. Ele me bateu na barriga, na cabeça, nos braços, e nas pernas. Eram socos e pontapés, a ponto de eu não aguentar mais e pedir: "Pára de bater nessa perna, bate na outra, por favor."
Eu fiquei arrasada e não sabia que atitude tomar.
Mas a gente sempre acha que tudo tem uma solução, né? Eu pensava “um dia ele muda”, e o meu filho era pequeno.
Pedi ajuda para minha família, pois não tinha a intenção de me separar. Com muita conversa ele me pediu desculpas, e aquele blá-blá-blá todo, e assim continuamos juntos, mas os abusos não tiveram fim.
Eu era humilhada quase sempre. Ele dizia "olha como você está gorda, não se cuida, como vou ter tesão em você?” Assim ficamos um ano sem ter relações sexuais depois que meu filho nasceu.
Eu me sentia a pior mulher do mundo.
Ele não me deixava frequentar uma academia. Eu só podia ir ao salão de beleza com a sua autorização e tinha que andar com o celular pendurado no pescoço, porque se ele ligasse eu não tinha desculpas para não atender.
Minha vida era um inferno, eu não tinha voz para nada, nem opinar sobre algum assunto eu podia e sempre tinha que concordar com ele.
E assim, mesmo com esses abusos, eu fui levando. Vieram outras agressões físicas e por algumas vezes pensei em acabar com o sofrimento, desejando a morte dele, pois era a única saída que eu via.
Para os outros, tínhamos um casamento perfeito, eu tinha vergonha de contar pelo que estava passando e escondia de todos.
Anos depois nasceu o meu segundo filho e eu não via perspectiva de mudança.
Eles seguia com os abusos psicológicos do tipo "se me denunciar, quem vai te sustentar?”
Eu era totalmente dependente dele, que me fazia acreditar que eu não era capaz de viver sozinha.
Foram muitos anos de agressões e embora eu já não aguentasse mais, também não tinha forças para sair daquela relação.
Foi muito difícil passar por tudo isso sozinha, sem poder contar pra ninguém que a minha vida era um buraco negro.
Como eu poderia imaginar, lá trás, que aquele homem por quem me apaixonei seria o meu agressor?
Até um dia, uma luz divina me deu coragem e depois de 27 anos de casada, aos 49 anos, eu decidi optar por mim.
Dei um basta, pedi a separação e nessa hora o vi chorar feito criança, mas a minha decisão estava tomada e tive total apoio dos meus filhos - que nunca presenciaram uma agressão física mas sabiam que eu vivia em um cárcere chamado LAR.
...
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