Aos 16 anos conheci alguém por quem me apaixonei. Eu sentia por ele algo que jamais voltei a sentir, até porque aquilo não era normal.
Depois de um ano e meio de namoro eu engravidei e d ecidi ir morar com ele. Então cometi um erro comum das mulheres na minha situação: parei de trabalhar. Nessa época eu tinha 17 anos, mas me sentia madura.
Tive uma gestação difícil, marcada pela escassez financeira e por enjôos constantes, que duraram até o dia do parto. No dia 31, réveillon de 1991, ganhei uma filha linda. No início da sua vida, ela apresentou um problema cardíaco, e foi preciso fazer 2 cirurgias, além de 3 anos de cuidados e tratamentos. Hoje ela está bem, e já me deu um netinho.
Tive mais um menino, que mostrou alterações desde bebê e só fui descobrir sua esquizofrenia aos 9 anos, sem que o pai tivesse tido o trabalho de mencionar que era uma doença que ele, pai e irmão também tem.
Mas a pior parte foi o meu relacionamento de casal.
Ele era muito trabalhador e logo encontrou um trabalho que lhe rendia altos ganhos, que usava para pagar prostitutas de 12 a 13 anos.
Ele gastou muito do que ganhava em boates, para ver amigos com mulheres, porque não tinha ereção. É vergonhoso pra mim, mas uma vez fui até uma boate para ver se era verdade o que ele contava. Foi aí que comecei a acreditar nas coisas que ele me dizia.
No início procurei entender e ajudá-lo e então perguntava coisas sobre a infância dele. Ele foi abusado por um homem no sítio onde morava. Na adolescência estudou em seminário e disse que lá houveram abusos também. Ele tem raiva de meninos, deve ser por isso.
Nunca tivemos uma vida sexual ativa. Raramente tínhamos relações sexuais e ele dizia que só sentia vontade forçando pessoas indefesas e inexperientes: exatamente o que eu era quando o conheci. A história dele pode ser triste, mas penso que nada justifica.
Ele me fez conhecer mulheres, dar recados e queria até que eu levasse garotas da escola para ele em casa. Ele me fazia aceitar a humilhação de ajudá-lo a me trair com meninas, em troca de uma vida financeira que proporcionava a mim e aos meus filhos.
Ele dizia que podia me contar tudo porque eu era a sua melhor amiga, que o entendia e o amava e assim me contava tudo o que se passava na sua mente. Ele confessou até que tinha vontade de abusar das filhas da vizinha. Dizia que tinha vontade de pegar meninas e jogar no mato para estuprar, mas que não realizava a vontade por medo de ser preso. Ele chegou a me pedir para que meus filhos não trouxessem crianças para brincar em casa.
Quando saia pra encontros, tudo ele me falava, parecia uma faca me cortando por dentro. Eu vomitava, chorava e quase enlouqueci nessa época. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo. Emagrecia dia a dia e fiquei dois anos sem dormir, até que comecei a tomar remédios. Separamos algumas vezes de casa, mas ele sempre voltava, dizendo que iria mudar. Eu, pensando nos meu filhos, acabava aceitando.
Hoje sei que nunca foi amor.
Se eu pudesse fazer diferente, teria abandonado ele no primeiro dia que soube dessas coisas. Eu perdi 13 anos com ele.
Descobri no meu marido um mostro, psicopata e pedófilo quando eu nem sabia o significado dessas palavras.
Segui convivendo com ele para tentar mudar a situação: por medo, fraqueza e vergonha, mas de nada adiantou.
Eu fiquei depressiva. Por muito tempo, sentia vergonha ao pensar que as pessoas saberiam, pois até então, aos olhos dos outros éramos um casal perfeito.
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