#22 - Quero ser ouvida
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Esse espaço é seguro, não é? Posso falar o que precisa ser dito? Tenho pensamentos muito fortes e no momento em que eu soube que o marido que eu tinha, pai dos meus filhos, era pedófilo e se insinuou para as nossas filhas, eu quis matar esse homem. Me separei por causa disso. Se ficasse com ele, faria alguma coisa e eu poderia ser presa. Quem iria cuidar dos quatro? Ser mãe é uma tarefa e eu quero desempenhá-la da melhor forma possível. Desde pequenos, conversava com eles sobre drogas, colocando medo e falando que mesmo a maconha pode ser veneno porque a pessoa pode ter alergia e até experimentar poderia ser fatal (não cheguei a checar a informação, mas eu queria mesmo era assustar!). Diante do que vivi, ensinei a não confiar no ser humano, nem em pai, nem em mãe, só em Deus, que é o verdadeiro amor. Ensinei que os filhos são emprestados para a mãe cuidar até que eles saibam andar com as próprias pernas. Mas deixa eu contar como cheguei aqui. Comecei a namorar esse futuro marido aos 16 anos. Até os 26 já tínhamos dois filhos. Foi um pouco antes de completar 26 que começamos a frequentar a igreja e lá fomos orientados a casar. E assim fizemos. Depois vieram mais duas crianças e a vida estava relativamente tranquila. Ele ganhava um bom dinheiro que nos sustentava, eu administrava a casa e as crianças. Nessa época, a responsabilidade de tudo, absolutamente tudo, era minha. Pra mim, tudo bem, gostava de cuidar da casa e dos filhos.  A mais velha começou a namorar e o pai ficou furioso. Foi aí que começou a transformação.  Ele se afastou da igreja e voltou a beber, fumar e usar drogas. Quando começamos a namorar, ele praticava fisiculturismo e tomava bomba. Entre as sequelas, a pior era a irritabilidade. Era impossível sair com ele, sempre passava vergonha por suas grosserias. Não sou santa nem quero me vitimizar, só estou dando a minha versão. Nos eventos da empresa, ele levava apenas os filhos. Eu só participava de eventos familiares, mercado, feira e Igreja.  A minha filha mais velha começou a namorar por volta dos  13, 14 anos e ele me bateu. A partir daí, não quis mais ter relação com ele. Ele contou pras tias dele e elas vieram me aconselhar já que na Igreja o casamento é "até que a morte nos separe". Quando contei que ele me agrediu, elas me deram apoio. Continuei casada, sem saber o que ia acontecer. Pedia a Deus me livrar dele. Num dia, minha filha, já maior de idade, chegou vomitando. Eu já estava dormindo. Ele pediu pra eu cuidar dela, eu disse que não, porque ela tinha bebido. Começou uma discussão e ela no fervor da briga disse que odiava o pai porque ele acariciou os seios dela enquanto ela dormia. A outra mais nova disse que ele dava dinheiro pra ela desfilar nua.  Eu não sabia o que fazer. Várias vezes o flagrei dormindo sem roupa pela casa, mas como ele bebia, não imaginava tal coisa. Fiquei sem chão, tinha que manter a calma porque se eu fizesse o que queria, ia ser presa e os meus filhos precisavam de mim. Com vergonha de contar pra polícia e pros parentes, me fechei. Falei que era segredo, mas só Deus sabe como eu estava rasgada por dentro. Até hoje dói lembrar. Vem a vontade de vomitar.  Estava com ele desde os 16 anos e me divorciei com 38. Voltei a beber, saí da Igreja porque não me senti acolhida em um momento tão delicado. Hoje entendo que não é a placa da igreja que salva, e sim Deus.  Foi um período difícil. Eu não imaginava, mas estava prestes a viver algo parecido, de novo.  ... [por conta do limite de 4000 caracteres o restante da história está apenas no áudio] Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez! Manda a sua história pra mim: ⁠⁠[email protected]⁠⁠
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