Description
Em nosso primeiro contato ele já foi ríspido. No restaurante, pedi uma cadeira e ele, de forma grosseira, respondeu: “pode pegar, é pra sentar mesmo”. Mal sabia eu que esse seria o cenário dos próximos cinco anos.
Os primeiros contatos vieram pelo Facebook, logo depois fomos para o whatsapp e rapidamente começou um namoro. Que foi pesado, desde o início. Ele era viúvo, com dois filhos e eu era 25 anos mais nova. Você pode se perguntar: por que eu me envolvi com ele? Eu, aos 24, com um filho não planejado de três anos, tinha parado a faculdade que era o meu sonho, não esperava grande coisa na vida.
Me sentia um fracasso e acreditava que não podia piorar. Ah, mas eu estava enganada. Casei com quatro meses de namoro e fui para o castelo de horror. Começaram os julgamentos, os empurrões, estupros, chacoalhões no meu filho, manipulação psicológica. Com um ano de casada descobri que ele conversava com mulheres, porém colocava o nome de outro homem pra eu não descobrir.
Eu quis sumir, mas fiquei. Mudamos de cidade, fui fazer faculdade, ele quis me fazer desistir, e eu continuei. Ele proibia que eu trabalhasse e ao mesmo tempo não me dava o que eu queria, só o que ele achava que era necessário. Comecei a responder aos abusos e perseguições, até que um dia eu me cansei de ouvir que ele iria me matar e planejei minha saída.
Bem, não foi tão planejada assim. Éramos líderes da igreja, então isso me perturbava. Como os irmãos da igreja veriam isso? Numa de nossas discussões ele pediu o divórcio e foi pra casa da mãe. Eu fui embora, mas acabei voltando porque ele insistiu que Deus não aprovava o divórcio. Foi só colocar os pés no castelo de horror que eu tive uma crise de ansiedade. Decidi ir embora de vez, pra nunca mais voltar. Hoje sou feliz, só eu e meu filho.
Esses foram os últimos abusos que passei na vida. Não quero mais. Decidi romper com esse ciclo de violência que começou com uma infância complicada. Não fui planejada e meus pais nunca viveram juntos. Minha mãe era muito nova e com cinco filhos não conseguiu cuidar de todo mundo; por vezes nos deixava sozinhos. Até que um dia aconteceu uma tragédia: a lamparina caiu no berço e matou minha irmã ainda bebê. Nós sobrevivemos a o fogo por milagre.
Aos 6 ou 7 anos eu não quis mais viver com ela, sofri abusos do meu padrasto, então juntei minhas roupas e fui viver com meus padrinhos de batismo. Assim eu cresci, sendo a filha criada - como meu padrinho dizia. Tive depressão aos 13 anos, o que foi muito duro de viver.
Estudei numa escola federal, o que me abriu portas, porém eu sofria porque não sabia reagir a tudo que sentia… Também não soube lidar quando, aos 20 anos, me envolvi com um homem manipulador, que não queria que eu estudasse. Quando soube que eu estava grávida, ele me seguia pela cidade e até a igreja que eu frequentava ele ia mesmo não sendo convidado.
Fez inúmeros boletins de ocorrência e denúncias ao conselho tutelar dizendo que eu queria abortar. Quando o meu filho nasceu, foram acusações de maus tratos. Atualmente ele me processa, porque deseja a guarda, não fala comigo e se peço ajuda ele me trata mal. Ele auxilia apenas com a pensão muito pouca, e fica com meu filho nas férias.
Hoje, honestamente, não tenho interesse afetivo sexual por ninguém, tenho receio de relacionamentos e sinto que perdi muito tempo. Sempre sonhei em passar em um concurso e ter estabilidade financeira, acredito que é a isso que quero me dedicar agora. Fazer a vida ser minha, de mais ninguém, de nenhum abusador. Tenho muito pouco em bens materiais, mas tenho a mim novamente. Se eu pudesse voltar, eu falaria para aquela mulher, jovem e imatura: você está aí dentro, acredite em você, esse pesadelo vai acabar e você será livre.
Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez!
Quem quiser participar, manda a
A minha história é muito comum e ao mesmo tempo muito particular. É uma história como dos grandes romances, mas também a mesma de meninas que viviam o trabalho doméstico como um fator de transformação na minha época. Continua sendo minha história, com o meu sotaque, derrotas e, claro, as minhas...
Published 10/28/24
Aos 53 anos seriam muitas histórias, mas deixo essa para o momento.
Em fevereiro deste 2024 conheci Carlo do mesmo modo como conheci tantos outros - por aplicativo de paquera. Mas algo naquela conversa era diferente.
Logo depois dos primeiros contatos, pediu meu número de celular, disse que ia...
Published 10/21/24