Tenho 42 anos, sou mãe de dois - uma de 24 e um de 5 anos. Tive um relacionamento com um rapaz mais novo durante 14 anos, 10 morando juntos - o menino de 5 anos é dele, uma paixão, a desses dois! Ele trabalhava demais, mas fora isso não tínhamos grandes problemas. O emprego fixo ele complementava com uma renda extra. Vivíamos bem até que veio o sonho de ter um apartamento próprio. Eu tinha muito receio mas dei uma força, conseguimos financiar.
Esse passo parece ter sido maior que as nossas pernas e com a angústia vieram as drogas. Com as drogas, as brigas, as dívidas e muitos desentendimentos. No dia a dia, ele me consumia de tanta cobrança. Ele ficava com as contas maiores, eu ficava com despesas menores e a presença com a criança para festas e passeios, já que ele estava sempre muito ocupado com o trabalho. Eu queria a separação, mas ele achava que conseguiríamos superar.
Em agosto de 2023, no dia dos pais, fizemos um almoço. Lembro que ele comeu muito, era panqueca, e foi trabalhar. Nunca imaginaria que fosse a última vez, o último almoço, o último abraço... À noite nos falamos por telefone e na segunda já não apareceu. Surtou uma semana gastando todo dinheiro na rua. Já não me atendia, não queria falar comigo nem com nosso filho. Na segunda seguinte ele me ligou, coisa de meio dia dizendo que não tinha mais jeito, que era pra eu cuidar do nosso filho.
Não levei a sério, achei que era mais uma crise por causa da droga. Nesse dia fui trabalhar sem desconfiar que minha vida seria transformada para sempre e à noite recebi a pior notícia: ele se suicidou na casa do pai…
Estou há um ano sem conseguir entender. Me restou a dor, a saudade, as dívidas… Nos mudamos para a casa da minha mãe, que tem me dado muito apoio. Além de tudo me sinto traída… O tanto que me dediquei! Tudo que abdiquei pra ter nossas coisas! Carrego um luto ainda não vivido pois não pude parar pra sofrer, vivo no automático e ao mesmo tempo esperando que ele chegue a qualquer minuto…
Sempre tive uma relação boa com a família dele, mas isso mudou um pouco. Sou mais chegada à minha sogra, mas decidi me afastar porque fui julgada e condenada como se eu tivesse culpa. Os irmãos dele nunca me perguntaram se eu ou meu filho precisávamos de alguma coisa. Meu coração está confuso entre a solidão e a mágoa, o luto adiado, a exaustão do dia a dia. Como imaginar que meu marido ia desistir de viver?
Ele jamais tinha me deixado sozinha.
Mas eu decidi viver e terminar o que ele deixou pendente. Decidi não desistir de mim, com muito esforço ano que vem termino minha faculdade de pedagogia, hoje já trabalho na área. A vida me trouxe muito sofrimento e muitas perdas, mas pelos meus filhos eu me levanto todos os dias. Não consigo imaginar uma superação, mas eu espero um dia voltar a ser feliz.
Se eu pudesse falar bem alto eu diria para as pessoas aproveitarem cada minuto com quem se ama e procurarem ajuda quando a dor é grande demais. Ninguém precisa sofrer sozinho. Eu tive que aprender a ser forte na marra, e hoje agradeço por estar aqui.
Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez!
Quem quiser participar, manda a sua história pra mim:
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