Ferro, carvão e gente assustada: O outro lado da diversificação em Angola
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Uma empresa siderúrgica promete criar milhares de postos de trabalho na província do Cuando Cubango. Mas há muitos receios quanto aos impactos sociais e ambientais do megaprojeto. Qual o custo de diversificar a economia?Esta é uma história sobre o outro lado da diversificação em Angola, em cinco capítulos. Um megaprojeto siderúrgico no município angolano do Cuchi prevê criar milhares de postos de trabalho, ao longo dos próximos anos, e contribuir para o desenvolvimento económico da província do Cuando Cubango. O grande objetivo dos investidores é transformar Angola no segundo maior produtor mundial de ferro-gusa com "selo verde", a seguir ao Brasil. O ferro-gusa é um material usado como matéria-prima na produção do aço – a China e os Estados Unidos da América são os dois maiores importadores. Mas vários ativistas duvidam da sustentabilidade do megaprojeto no Cuando Cubango e temem que a fatura social e ambiental que o Cuchi já começou a pagar seja demasiado cara. Será possível diversificar a economia angolana, ter crescimento económico e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente? Capítulo 1: Entre o sonho e o pesadelo O telemóvel vibra, aparece uma notificação no ecrã. Clicamos para ler a mensagem, há novidades do Cuando Cubango. Muito em breve, a Companhia Siderúrgica do Cuchi deverá começar a fabricar ferro-gusa e já começou a empregar. Telefonamos a Danilo Danelucci, um dos administradores executivos da empresa. Ele diz-nos que, para já, serão 1.100 postos de trabalho locais. "Até junho, essas pessoas deverão estar a trabalhar". Segundo Danelucci, "o primeiro alto forno, com 96 mil toneladas, já está instalado. Está na fase final da instalação elétrica". Deverá arrancar a partir de maio ou junho deste ano. "Até 2025, temos a projeção de chegar a um quarto alto forno, para produzir 520 mil toneladas." Nessa altura, a siderúrgica prevê gerar 4.200 postos de trabalho. Num cartaz que recebemos por mensagem e na página de Internet, a empresa promete "transformar" a região. Assevera que vai criar oportunidades "para o surgimento de pequenas indústrias de fundição", promover o surgimento de empresas-satélite prestadoras de serviços e impulsionar o comércio local. A produção será 100% para exportação, acrescenta Danilo Danelucci: "Em Angola ainda não há consumidores diretos de ferro-gusa. Então, existe um impacto na balança comercial com a entrada de divisas no país." … E se a torneira do crude fechar? Diversificar a economia é um sonho de Angola há muitos anos. O país exporta sobretudo petróleo e está exposto às flutuações do preço do crude no mercado internacional. Se o petróleo está em alta, a economia respira – foi o caso nos últimos meses, particularmente desde o início da guerra na Ucrânia, no final de fevereiro – mas se há uma baixa de preços, o país sustém a respiração. Foi por isso que o Governo criou vários programas de incentivo à diversificação e diminuiu também as barreiras ao investimento estrangeiro. Há quase quatro anos, durante uma visita à Alemanha, o Presidente angolano, João Lourenço, anunciou que estavam "criadas as condições para uma economia mais aberta e competitiva" com "a nova legislação sobre o investimento privado e a política cambial, a lei da concorrência, a facilidade da circulação de pessoas e a garantia do repatriamento de capitais e da transferência, para o exterior, de dividendos e lucros." No entanto, continua a haver obstáculos para os empresários, a avaliar pelos últimos relatórios do Banco Mundial. Abrir uma empresa tornou-se mais simples, mas os empreendedores continuam a ter dificuldades para aceder a créditos. Ter eletricidade sem cortes também é um desafio. Só que não se pode diversificar a economia sem ter corrente elétrica para ligar os computadores e fazer girar as máquinas. Onde se pode ir buscar energia? Angola tem investido bastante
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